Quinto Império ou o sonho profético de irmos sempre mais longe
Enquanto aguardo em jubilosa esperança as medidas necessárias para combater o défice público, não posso deixar de rir (a bandeiras despregadas) com a nomeação do ACNUR. É fantástica a falta de memória! E o homem que ontem se sentiu emocionado com semelhante nomeação, vai emocionar-nos a todos com o incumprimento dos objectivos prometidos na sua campanha eleitoral, precisamente porque já não se lembra do que andou a prometer! Vai ser de ir às lágrimas... Mas a memória é sempre curta!! Porque o mesmo homem que hoje é ACNUR, deixou o país no "pântano" (palavra usada por si, quando decidiu ir embora), e foi chefe do Governo que criou este Mostrengo financeiro! Mas isso não interessa... Porque a missão é para os refugiados, é de prestígio e o homem do diálogo, da razão e da paixão vai desempenhá-la bem (assim esperam, pelo menos, os milhões de refugiados do Mundo)! Nós por cá empurraremos a vida como pudermos, sonhando sempre com o tal Quinto Império Português, porque temos de ser naturalmente descontentes, querendo sempre ir mais longe... O sonho comanda a vida!!
O Quinto Império
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda a idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Fernando Pessoa, A Mensagem