tons de dentro

notas soltas ou músicas completas vindas de dentro de mim...

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Localização: entre Aveiro e o Porto, Portugal

quarta-feira, maio 25, 2005

Quinto Império ou o sonho profético de irmos sempre mais longe

Enquanto aguardo em jubilosa esperança as medidas necessárias para combater o défice público, não posso deixar de rir (a bandeiras despregadas) com a nomeação do ACNUR. É fantástica a falta de memória! E o homem que ontem se sentiu emocionado com semelhante nomeação, vai emocionar-nos a todos com o incumprimento dos objectivos prometidos na sua campanha eleitoral, precisamente porque já não se lembra do que andou a prometer! Vai ser de ir às lágrimas... Mas a memória é sempre curta!! Porque o mesmo homem que hoje é ACNUR, deixou o país no "pântano" (palavra usada por si, quando decidiu ir embora), e foi chefe do Governo que criou este Mostrengo financeiro! Mas isso não interessa... Porque a missão é para os refugiados, é de prestígio e o homem do diálogo, da razão e da paixão vai desempenhá-la bem (assim esperam, pelo menos, os milhões de refugiados do Mundo)! Nós por cá empurraremos a vida como pudermos, sonhando sempre com o tal Quinto Império Português, porque temos de ser naturalmente descontentes, querendo sempre ir mais longe... O sonho comanda a vida!!

O Quinto Império


Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!


Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.


Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!


E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.


Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda a idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?


Fernando Pessoa, A Mensagem

terça-feira, maio 24, 2005

Actualidade

Andava a fazer umas leituras para os exames e "tropeço" num texto, de que transcrevo apenas um excerto. Decidi actualizar o meu blog (que não tem tido textos com a regularidade que desejava, por isso faço mea culpa) usando-o, para que sirva como motor para a reflexão... Porque há coisas que estão na carga genética de um povo... Porque há coisas que são sempre actuais!


"(...) Aproxima-te um pouco de nós, e vê.
O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretárias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.(...)"



Eça de Queirós, "Estado Social de Portugal em 1871", in Uma Campanha Alegre



Atentem bem, mas mesmo muito bem, na data em que o texto foi escrito! E reparem na actualidade de algumas afirmações! Este país sempre foi assim! Estas características são intrínsecas, congénitas e definem o que é ser português!
Fica, então, este texto de um génio da Literatura Portuguesa e Mundial ( porque não vale pensar pequeno...) para que meditemos... Mas sobretudo, para que sejamos capaz de ser diferentes, melhores...

quinta-feira, maio 05, 2005

60 anos depois...

Foi há 60 anos que acabou!
Contudo, temos o dever de não esquecer as terríveis consequências da demência do Nacional-socialismo, não apenas em termos do equilíbrio geo-político e estratégico mas, sobretudo, em termos humanos. Aliás, o que deve estar sempre presente é a Humanidade, ou melhor, a ausência dela, que leva um ser humano (Adolf Hitler era humano, sim! E parece-me impossível...) a provocar mais de 52 milhões de mortes em nome da vingança de uma humilhação imposta pelo tratado de Versailles, em nome de um expansionismo que revitalizaria o orgulho debilitado, em nome de uma superioridade genética, em nome de tantas insanidades...
Custa a crer, mas tudo isto existiu! E a História ainda segue o seu curso, ainda tenta analisar hoje as marcas deixadas pelo conflito, e são muitas as marcas presentes nas Relações Internacionais actuais. E nós, os que olhamos o conflito com esta distância, e não temos especial interesse nas alterações causadas na política internacional, temos de perceber as marcas sociais e humanas deixadas neste povo, que pode ser de Abrãao, de David, de Alá, de Cristo ou de Darwin e temos o dever de dizer que não queremos este massacre, esta loucura NUNCA MAIS!!!
E porque a literatura tem o dom de fazer perpetuar todos os nossos sentimentos, deixo dois extractos de dois livros que aconselho vivamente. A mensagem é dura mas real, de uma vivência que nunca experimentámos, mas que devemos ter presente para sermos diferentes e melhores, para deixarmos uma melhor Humanidade aos nossos filhos...

"O primeiro dia da escola. A saca às costas, caminhei ao lado da minha mãe, cheia de curiosidade e de receios. O sr. Brand, o professor, distribuía sorrisos animadores aos meninos, que o fitavam com desconfiança. A barba grisalha e o colarinho engomado davam-lhe um ar de austeridade, mas os olhos alegres protestavam contra tal impressão. Começou por nos falar, e doseava serenidade com humor para afugentar os nossos medos. De todas as escolas por que passei, a de que verdadeiramente gostei foi a escola primária. Quando o sr. Brand tomou nota do meu nome ninguém se virou para mim com sorrizinhos por soar a judaico, ninguém achou estranho eu responder «Israelita» à pergunta do sr. Brand à minha religião."


Ilse losa, O Mundo em vivi

"Fizeram-nos ver bem que somos «mergulhados», judeus enclausurados, presos num sitio, sem direitos, mas carregados de milhares de deveres. Nós, judeus, não devemos deixar-nos arrastar pelos sentimentos, temos de ser corajosos e fortes e aceitar o nosso destino sem queixas, temos de cumprir tudo quanto possível e ter confiança em Deus. Há-de chegar o dia em que esta guerra medonha acabará, há-de chegar o dia em que também nós voltaremos a ser gente como os outros e não apenas judeus.(...)O que sei é que a coragem e a alegria são os factores mais importantes na vida!"

Anne Frank, Diário de Anne Frank

P.S- À Lúcia, uma amiga que adoro, o meu Muito Obrigada!!! Beijos grandes, muito grandes cheios de carinho e força!