tons de dentro

notas soltas ou músicas completas vindas de dentro de mim...

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Localização: entre Aveiro e o Porto, Portugal

terça-feira, abril 19, 2005

Há quem escreva muito, muito bem...

" Se por um instante Deus se esquecesse que sou uma marioneta de trapos e me oferecesse um pouco mais de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os outros parassem, acordaria quando os outros dormissem.
Ouviria quando os outros falam e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate!
Se Deus me oferecesse um pouco mais de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o corpo, mas também a minha alma.
Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol.
Pintaria um sonho de Van Gogh sobre as estrelas, um poema de Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas.
Meu Deus... se eu tivesse um pouco mais de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto, que gosto delas.
Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar.
A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo o Mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.
Aprendi que um homem só tem direito a olhar para outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que aprendi com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei morto."

Gabriel García Marquez